
Nem tudo é tecnologia no trabalho pedagógico a distância
O fato de a atual pandemia do Coronavírus ter mobilizado todo o universo educacional na busca por soluções para o trabalho pedagógico a distância, não elimina, pelo contrário, potencializa, o papel da afetividade nas relações professor/aluno.
Mais do que nunca a aplicação do conceito de afetividade, ou como traz o dicionário (https://www.dicio.com.br/afetividade/ em 26.07.2020), o conjunto dos fenômenos afetivos (tendências, emoções, sentimentos, paixões etc.); força constituída por esses fenômenos, no íntimo de um caráter individual, se faz necessária no contexto da educação.
Nesse sentido cabe expandir esse conceito. Afetividade, na escola, significa também estabelecer uma relação entre professor e aluno, na qual a emoção esteja envolvida, para que se desenvolva um ambiente produtivo de aprendizagem. Para tanto, é fundamental que se criem interações. São elas que construirão confiança, empatia e reciprocidade.
Até então, a afetividade na sala de aula estava muito ligada aos estímulos promovidos pelo professor para que os conteúdos trabalhados se mostrassem interessantes, acessíveis e atrativos, e para que o aluno se motivasse para querer estudar de um modo geral. Hoje, o professor vê-se confrontado com novos desafios. O aluno tem o equipamento necessário para as aulas online? Há condições mínimas de conexão com rede de internet? Ele dispõe de um ambiente adequado para fazer seus estudos? Vai se constranger em abrir sua câmera e mostrar parte de sua casa? Está sofrendo com perdas materiais ou familiares? Tem medo de adoecer ou de que seus familiares adoeçam? Sente-se otimista em relação ao futuro? Sente que há continuidade em seu progresso acadêmico? E a lista poderia continuar. Uma nova camada se impôs às tantas demandas a cargo do professor.
Assim como foi obrigado a aprender novos meios e técnicas para viabilizar suas aulas, o professor também está tendo que administrar as novas questões emocionais dos alunos. Naturalmente, não cabe ao professor resolver essas questões. Mas cabe a ele ajudar a minimizar seu impacto para que a aprendizagem continue a acontecer dentro de um ambiente de confiança e esperança.
Mesmo nos novos canais de interação é possível manter atitudes e posturas que podem mitigar um cenário em princípio desolador. Olhar para a pequena câmera do computador reproduz a sensação de olhar no olho, de perceber. Chamar os alunos pelo nome, comentar seu sucesso individual nas atividades, lembrar fatos pessoais melhoram a autoestima. Não fingir que tudo está perfeito e abordar a realidade com coragem e verdade geram maturidade. Demonstrar que se importa e se preocupa, que ouve, entende e respeita estabelecem vínculos.
Essas são atitudes altamente desejáveis na sala de aula presencial e que podem, e devem, ser transportadas para o ambiente online. Entretanto, essa nova realidade só será possível se, antes, o professor conseguir equilibrar a si mesmo dentro do mesmo contexto ineditamente assustador que se instalou na sociedade de hoje. O que estamos vivendo não é banal e exige foco, discernimento e preparo dos “adultos na sala”. Antes de apoiar, o professor deve se fortalecer e se preparar. Nada fácil. Mas, afinal, o que é fácil na vida do professor no Brasil? Somos resilientes e agora também sobreviventes!
Gosto desta definição de empatia do site www.merriam-webster.com ; “the action of understanding, being aware of, being sensitive to, and vicariously experiencing the feelings, thoughts, and experience of another of either the past or present without having the feelings, thoughts and experience fully communicated in an objectively explicit manner”, ou seja, empatia é a ação de compreender, estar consciente, ser sensível e vivenciar solidariamente sentimentos, pensamentos e experiências de outros, no passado ou no presente, sem comunicar completamente sentimentos, pensamentos e experiências de maneira explícita. O que poderia descrever melhor o que move silenciosamente um professor?
Fomos convocados a fazer de um momento extremamente turbulento, uma oportunidade de aprendizado, e mais uma vez aceitamos o desafio. Sairemos todos, professores e alunos, com escoriações, mas mais fortes e amadurecidos.
Biografia do autor:

Biografia do Autor:
Ana Lúcia Carriel
Coordenadora de Produtos de Inglês do franqueador CNA; professora de inglês como língua adicional e formadora de professores; Bacharel e licenciada em língua e literatura inglesa e francesa pela USP; Mestre em Práticas e Teorias de Ensino pela Faculdade de Educação da USP; tem extensão universitária em Ensino de Inglês para Crianças e Adolescentes pela PUC – São Paulo; detém CPE, COTE, CEELT II e ARELS Diploma; já apresentou trabalhos em diversas conferências nacionais e internacionais como IATEFL, LABCI, Braz-TESOL, e CNA.