
A tecnologia e a sala de aula
Quando falamos de sala de aula e tecnologia é comum ouvirmos a já gasta metáfora sobre o “impacto” da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem. Contestar esse discurso pode até parecer um contrassenso, mas é um passo necessário para entendermos e discutirmos a educação na sociedade digital.
Impacto da tecnologia é uma péssima metáfora pois coloca a tecnologia ao mesmo tempo como agente externo à sala de aula e ponto de partida da mudança, e ela não é nenhum dos dois. Toda a conjuntura social que levou ao desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação, e que posteriormente se formou em torno delas, esteve (e está) presente também na sala de aula, pois ambas são manifestações culturais indissociáveis que estão expostas ao mesmo contexto e às mesmas forças transformadoras.
Quando partimos da premissa de que a sala de aula é indissociável do mundo lá fora, toda a questão da tecnologia entra em perspectiva. Não se trata de ter ou não dispositivos digitais, mas sim de entender as novas formas de produzir sentidos num mundo em constante evolução. Até porque o “ser tecnologia” é pouco mais do que uma percepção. Lousa e giz, retroprojetor, mimeógrafo, e-board, e aplicativos de reunião online são todos exemplos de tecnologia, mas nem todos são percebidos como tal. Uma aula síncrona à distância poderia ser considerada – até 2019 – como um exemplo do emprego da tecnologia no contexto de ensino e aprendizagem. Em 2020 é só mais uma aula.
O emprego de recursos geralmente percebidos como tecnológicos traz, sim, um ar de modernidade para a sala de aula, mas é mais importante entender o que fazemos com estes recursos e como isso nos coloca, enquanto educadores, em sintonia com o contexto no qual todos nós: professores, alunos, escola e sociedade estamos inseridos. Uma aula pode parecer tecnológica ou parecer “retrô”, e isso não será, necessariamente, o fator decisivo que gerará engajamento e aprendizagem para nossos alunos.
As tecnologias da informação e da comunicação são ao mesmo tempo produto e catalisadoras de um novo jeito de estar no mundo. Entender esse “jeito de estar no mundo” é muito mais importante do que fazer “quiz” para eles responderem usando os seus smartphones. O “quiz” pode, de fato, ser uma ótima ideia, desde que faça sentido dentro de um contexto mais amplo. Entenda seu aluno. Entenda como é que ele quer estar no mundo e produzir sentidos. Partindo deste ponto, toda tecnologia que você empregar, seja ela percebida como tecnologia ou não, será uma ferramenta a mais para que vocês se conectem e tenham experiências memoráveis.

Biografia do Autor:
Marcos Ruiz
Trabalha há mais de 20 anos com ensino de idiomas e desde 2007 é um dos responsáveis pela formação de professores e coordenadores da rede de escolas de idiomas CNA. Sua experiência também inclui trabalhos como autor de materiais didáticos e programas de treinamento. Atualmente, Marcos tem se focado bastante na área de design instrucional e formação de professores por meio de cursos híbridos.